Os transportes

Apresentação

Como se infere de notícia proveniente de Arouca, no ano de 1909 o automóvel já circulava por terras de Cambra, mas em 1908 eram as diligências, em número de quatro, que asseguravam o transporte de pessoas e bens entre Arouca e Oliveira de Azeméis, com passagem pela Gandra [1].

Os seus proprietários eram Martinho Rocha & Martins. Tinham estas diligências ligação com os comboios que partiam ou chegavam a Oliveira de Azeméis e cujo primeiro troço (Oliveira de Azeméis / Espinho) da linha do Vouga tinha sido inaugurado, com grande pompa, em 23 de Novembro de 1908, pelo Rei D. Manuel II.

Antes da chegada do caminho de ferro a Oliveira de Azeméis já passava por esta localidade, desde 1858, a mala-posta [2].

Contudo, se no vale havia diligências que circulavam com regularidade, já o mesmo se não podia dizer das povoações serranas.

Recorde-se que em 1862 é pedido ao Rei que a estrada de Oliveira de Azeméis / Arouca passe por Cambra [3].

No que se refere à zona serrana, porém, só muito mais tarde (início dos anos 30 deste século e até cerca de 1960) é que as estradas foram rasgadas.

Com efeito, a essas zonas, até ao início dos anos 30 deste século, só chegavam os almocreves, bufarinheiros e outros negociantes, que, com as suas mulas ou canastras à cabeça, asseguravam os diversos abastecimentos desde peixe fresco ao calçado.

As primeiras camionetas de passageiros apareceram nas terras de Cambra por volta de 1925, altura em que são criadas duas empresas para o transporte de passageiros:

A Progresso, pelo Comendador Luís Bernardo de Almeida e Manuel Anacleto, e a Empresa de Transportes Gandra, Lda. –
camionetas amarelas -, por António Cândido S. Almeida.

E falando da Empreza de Transportes Progresso, é justo
não esqueçamos os dois homens que teem concorrido para o seu crédito e fama de que já hoje goza – o Sr. Manoel Anacleto e seu digno fillho José Anacleto, que lhe teem dado todo o seu esforço para que seja tida como a Empreza de Transportes de melhores carros e de melhores “chauffeurs” e à qual não se pode, até hoje, durante perto de 10 anos apontar um desastre por descuido ou incompetência!… … O público encontra nellas aleem das maiores comodidades, o bom trato e todas as possíveis atenções do pessoal conductor.

O serviço que a toda esta região, concelho de Oliveira de Azeméis e Estarreja, presta esta empreza, é deveras magnífico:
Dá-nos ligação directa para quási tôdos os comboios, tanto do Vale do Vouga, como da Companhia Portuguêsa, incluindo o rápido. Além destas carreiras de O. de Azeméis e Estarreja, tem as diárias para o Porto, com serviço especial aos sabados, para os teatros, servidas por magníficas caminhêtas, das melhores marcas
[4].

Quanto à Empresa de Transportes Gandra, Lda. iniciada em 1926 com uma pequena viatura e sem capital suficiente, a indústria parecia morrer à nascença.

Não lhe faltaram os perigos e ardis de concorrência desleal, nem a chacota sombria de inimigos e indiferentes; mas também não lhe faltou, a par da tenacidade do seu fundador e continuador, o apoio firme de alguns amigos.

Principiou com uma só viatura, fazendo 100 quilómetros uma vez por semana, e passou a dispor de doze viaturas, camionetas empregadas nas carreiras que percorriam uma média de 600 quilómetros.

Tinha o mérito de ocupar um lugar entre os primeiros 20 dos 270 concessionários de carreiras de transportes colectivos de passageiros que existiam em todo o país.

O seu gerente era o Sr. António Cândido Soares de Almeida, sendo também seus sócios os filhos Armindo Cândido dos Santos Almeida e Arlindo Cândido dos Santos Almeida [5].

Em 1955, esta empresa funde-se com a Empresa de Transportes de Oliveira de Azeméis, Lda., dando origem à União Rodoviária do Caima.

[1] O Jornal de Cambra, n.° 51, ano de 1908.
[2] Annaes do Municipio de Oliveira de Azeméis – Livraria Chardron de Lello e Irmão – Porto 1909, pág. 123.
[3] O Concelho por volta de 1860 e Efemérides do séc. XX.
[4] O Jornal de Cambra, n.º 19 (Il Série) de 15/11/1931.
[5] Ferreira, António Martins – Vale de Cambra, 1942.

Em 1908, eram as diligências que asseguravam o transporte das pessoas.

Estas diligências fazem serviço para os comboios que partem de Oliveira de Azeméis às 6 horas da manhã e 1:30 da tarde e chegam às 10:30 da manhã e 6:30 da tarde.

A sede é na Gândara de Macieira de Cambra, em cujas alquilarias há excelentes carros e bom gado para fretes e preços médios, fazendo serviço com a máxima regularidade.

Os passageiros das diligências terão redução de preço nos carros que fretarem quando, em qualquer ponto de carreira, os requisitem.

Adaptado de O Jornal de Cambra n. 51, ano 1908

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Texto de apresentação, selecção de fotografias e texto
Maria da Graça Gaspar Mendes de Pinho da Cruz