por Manuel Luciano da Silva, Médico
Durante de mais de 40 anos de prática médica tive várias ocasiões de dizer aos pais que acompanhavam os filhos ao meu consultório que os nossos filhos são sempre a imagem em espelho dos pais…
E os pais não gostavam nada de ouvir estas verdades….
Mas se o pai fuma, se o pai bebe, que diabo é que espera do filho ou da filha?
As crianças vivem num mundo de gigantes e claro é muito natural que procurem imitar os adultos que os circundam!
Todos nós fizemos o mesmo. Faz parte da sobrevivência biológica!
Todos nós vivemos num mundo circundado de trindades: “Deus, Filho e Espírito Santo”; “Saúde, dinheiro e amor”!
Mas quem não tem “dinheiro, nem amor, nem instrução” não pode dar!
Instrução e educação são duas coisas diferentes embora complementares.
Infelizmente os nossos emigrantes não têm instrução em quantidade esbanjadora.
Não têm porque não tiveram oportunidade na sua terra natal de frequentarem o liceu ou a universidade.
Isso não é culpa deles. É da nação, do sistema, onde nasceram e foram criados.
Mas os nossos emigrantes adultos que vivem nos Estados Unidos podiam dar mais um jeitinho e instruírem-se mais, ‘porque o saber não ocupa lugar’…
Como é que os pais emigrantes querem que os seus filhos se interessem pela língua e cultura de Portugal se os próprios pais não a sabem, nem se interessam em a saber?
Os próprios pais não têm orgulho das suas raízes! Porquê?
Porque não lêem praticamente nada sobre Portugal!!!
Não têm nas suas próprias casas nenhum livro, nem em português, nem inglês, sobre a história de Portugal, nem nenhum dicionário de português-inglês e inglês-português!!!
E depois ficam zangados comigo quando eu lhes afirmo que “os filhos são a imagem em espelho dos pais”!…
Escolas Portuguesas na América
Existem na América e no Canadá cerca de meia centena de Escolas Oficiais Portuguesas.
A criação destas Escolas e a sua manutenção deve-se ao grande esforço de alguns emigrantes – os carolas — que têm um amor tremendo pela terra onde nasceram e querem que os seus filhos aprendam os valores culturais das raízes lusitanas.
Levou muito tempo para que os Srs. em Portugal prestassem atenção a este grande esforço genuíno.
Mas os responsáveis em Portugal pelo ensino da língua e cultura portuguesa no estrangeiro ainda não acertaram no tendão de Aquiles!
O ano passado mandaram para a América um director das Escolas Oficiais Portuguesas mas este senhor foi escolhido por razões políticas, “um tacho”.
Trouxe consigo toda a mobília e gastou ao erário português mais de sessenta mil dólares.
Foi obrigado a regressar a Portugal sem produzir nada de útil para as Escolas Portuguesas.
Queria estabelecer residência em Washington, DC, onde não existe nenhuma Escola Portuguesa! Porca miséria!
Há poucos dias, aquando da celebração do primeiro aniversário do Governo chefiado pelo Primeiro Ministro João Barroso, o Secretário de Estado das Comunidades, Dr. José Cesário, fez uma declaração muito importante que devemos ponderar com muita atenção:
“Consideramos essencial promover uma profunda reforma do sector do ensino da Língua Portuguesa no estrangeiro, em comunhão de esforços entre os diversos departamentos do Governo, de modo a garantir uma maior afirmação da nossa Cultura, apostando nomeadamente nos recursos técnicos e humanos já existentes nas nossas Comunidades.”
Bem dito, Sr. Secretário de Estado! É baseado nesta sua afirmação de que “apostando nos recursos técnicos e humanos já existentes nas nossas comunidades” que vimos dizer a Vossa Excia., publicamente, que não precisamos que nos mande para cá nenhum Director das Escolas Portuguesas!
Podemos muito bem usar a “prata da casa”!
Conselheiros das Comunidades
Quem é que devem ser os Directores-Coordenadores das Escolas Oficiais Portuguesas no estrangeiro?
Os Conselheiros das Comunidades acabados de serem eleitos!!!
Todos eles são pessoas com muitos anos de experiência em actividades de várias ordens nas comunidades onde vivem, além de serem pessoas que triunfaram nos seus ramos profissionais ligados até à educação, ou no comércio.
Sabem muito bem relacionar com os vários elementos da sociedade onde vivem e portanto estão em condições de coordenarem muitas boas vontades.
Estes Conselheiros podem muito bem estabelecer relações amistosas entre as Escolas Oficiais Portuguesas e as classes de Português nos liceus regionais e até convidar os professores universitários (cerca de uma centena em toda a América) a visitarem as Escolas Portuguesas para estimularem os alunos a terem um maior interesse pela língua e cultura portuguesa.
Os Conselheiros querem trabalhar, querem fazer coisas por Portugal e pelos emigrantes.
Têm, até à data, andado à deriva, sem rumo nem roca, porque os Srs. governantes em Portugal não lhes querem dar nenhuma responsabilidade nas zonas eleitorais dos emigrantes que representam.
Ainda mais. O dinheiro, os milhares de dólares que gastariam com o salário, a renda de casa e ajuda de custos, com um director vindo de Portugal, empreguem esse dinheiro na aquisição de material didáctico para as mesmas Escolas!
Devo lembrar aqui, agora, porque vem muito a propósito, que os portugueses que vivem nos Estados Unidos da América mandam POR DIA mais de UM MILHÃO de dólares para Portugal, Açores e Madeira.
E durante UM ANO inteiro mandam mais de TREZENTOS E NOVENTA MILHÕES DE DÓLARES!
Dinheiro que foi ganho à custa de muito suor e lágrimas e pelo qual também já pagaram os impostos aqui na América.
Portanto esse dinheiro que chega aos cofres do Banco de Portugal é dinheiro limpinho!
É óbvio que os portugueses da América merecem mais RESPEITO e CONSIDERAÇÃO da Mãe Pátria!
Dois livros excelentes
Não devemos esquecer o tema da nossa conversa:
“Os filhos são a imagem em espelho dos pais”…
Se os filhos procuram imitar os pais em tudo, também o fazem, muito genuinamente, nos interesses culturais.
Se os pais não têm, não revelam interesse pela cultura, pela história de Portugal, claro que isso passa a ser muito óbvio aos filhos e deixa de haver, no seio da mesma família, interesse culturais comuns.
Se houver só comes e bebes, passamos ser só animais…
Os portugueses na América precisam duma Bíblia, dum Missal Cultural que possa ser útil e comum, aos pais, aos professores e aos alunos nas Escolas Oficiais Portuguesas.
Os alunos porque nasceram na América e portanto a América é a Pátria deles, PRECISAM PRIMEIRO de ENTENDEREM , DE COMPRENDEREM BEM, NA LINGUA MÃE DELES, QUE É O INGLÊS, a história e a cultura portuguesa, para depois muito mais facilmente aprenderem, tomarem gosto pela língua portuguesa.
Não é a metermos, à força, o português pela garganta abaixo, com regras esquisitas de gramática, que as crianças se entusiasmam pela aprendizagem do Português.
Nunca mais! Isso é péssima psicologia didáctica!
Qual é o livro didáctico que recomendo?
É um livro que não foi escrito em Portugal! Foi feito na Inglaterra. Mas é uma autêntica maravilha e pode ser agora adquirido nas duas línguas, em inglês e português!
Estou farto de alertar a nossa comunidade, na rádio, na TV e na imprensa, que todas as casas luso-americanas deviam possuir dois livros, um exemplar em português e o outro em inglês, da mesma edição intitulado “Portugal with Madeira & the Azores”.
Este livro foi publicado na Inglaterra pela companhia Dorling Kindersley (www.dk.com).
A edição portuguesa tem por título “Portugal”.
Tem 480 páginas e mais de mil fotografias coloridas sobre Portugal e Açores e Madeira.
A impressão é magnífica e a tradução para português é excelente!
Este é o livro didáctico que eu recomendo a todos os pais, todos os professores e todas as crianças que na América frequentam as Escolas Oficiais Portuguesas deviam usar.
É um livro muito objectivo, porque as explicações são muito simples e as fotografias muito bem coordenadas com o texto.
Depois das crianças lerem em inglês as páginas dedicadas por exemplo à arquitectura tradicional portuguesa ou manuelina, os azulejos os melhores do mundo, a cerâmica, a variedade de peixes portugueses, os vinhos de Portugal os melhores do mundo, sobre os governantes de Portugal em nove séculos, a era maravilhosa dos descobrimentos, a variedade saborosa da culinária portuguesa, descrições muito objectivas sobre as cidades, os monumentos históricos, as praias únicas, a vulcanologia dos Açores e da Madeira, tudo acompanhado de fotografias coloridas lindíssimas, então a criança, depois de compreender na sua língua mãe em inglês, passará a ler a mesma informação na edição em português e absorverá muito melhor e com muito maior entusiasmo quererá aprender a língua e a cultura dos seus pais.
E os pais deviam fazer como eu faço. Eu possuo dezenas de livros sobre Portugal, mas tenho estes dois livros na minha mesinha de cabeceira.
Quando preciso de rever qualquer informação sobre Portugal vou ao índice e zás tenho logo ali a informação correcta e rápida do que procuro.
A edição em inglês pode ser obtida em qualquer livraria local ou na Barnes e Nobles ou então pedir pela Internet.
A edição em português tem que ser comprada em Portugal como eu fiz.
Cada livro custa vinte e cinco dólares. É uma magnífica prenda de anos para um filho ou para um neto!
Espero que aproveitem o meu alvitre. Espero também que venham a ter o mesmo prazer que eu tenho tido em possuir estes dois livros maravilhosos!
Novo Movimento Literário no Conselho de Vale de Cambra
Li com muito interesse na “A Voz de Cambra” o vosso grito para se criar entre todos os valecambres, dentro e fora do nosso Concelho, um grande movimento para “revivermos a memória do internacionalmente conhecido Escritor Ferreira de Castro em relação a Vale de Cambra e até para se criar um Grande Prémio Literário para autores lusófonos em homenagem aos emigrantes da diáspora portuguesa, para podermos divulgar mais o nosso Concelho baseado no amor que Ferreira de Castro sempre teve, durante décadas, à Pensão Suiça e à beleza e tranquilidade de Vale de Cambra.”
A caridade deve começar em casa. Gosto muito do vosso plano mas peço licença para ser franco.
Aqui nos Estados Unidos da América em todas localidades é uso e costume nos liceus locais os professores de literatura e de história usarem como livros textos as obras meritórias de autores regionais.
No caso do Ferreira de Castro ele tem muitas qualidades como homem do povo, que nasceu numa aldeia, dando o exemplo que todo jovem pode vir a ser escritor; que gostava muito das tradições populares, “que era um homem que não cultivava a notariedade”, era um grande patriota e revelava uma inteligência rara, mas sobretudo possuia simplicidade, humanismo e modéstia”.
Foi o primeiro escritor português que não gostava de usar gravata…
No Ensino Secundário do Concelho de Vale de Cambra TODOS os estudantes deviam ler e analizar “Os Emigrantes” e “A Selva” ambos obras primas do Ferreira de Castro traduzidas em muitas línguas estrangeiras.
É inadmissível que hajam muitos povos muito longínquos de Vale de Cambra que conhecem as obras de Ferreira de Castro e os estudantes da nossa terra não.
Portanto eu quero sugerir ao novo Movimento para começar a arranjar muitos milhares de assinaturas para pedir às Autoridades Camarárias e ao Reitor da Escola Secundária de Vale de Cambra para incluir no Currículo Obrigatório pelo menos duas obras de grande Ferreira de Castro.
E enquanto estão com a mão na massa juntem também os nossos livros:
(1) História da Pedra de Dighton que ganhou um Doutoramento numa Universidade Americana e também o
(2) nosso livro sobre o Colon (Colombo) Português que foi adaptado ao cinema pelo Mestre Manoel de Oliveira, cuja produção ganhou uma Medalha de Ouro no Festival Internacional Cinematográfio de Veneza, Itália, no dia 8 de Setembro de 2007.
Só usando a prata da casa é que poderemos dar um bom exemplo às camadas jovens dos valores literários do nosso Concelho.
Boa sorte no novo Movimento!