IGREJAS
Para além das Inquirições e dos Forais, a Coroa foi mandando fazer outras averiguações a fim de ter controlo dos bens sua pertença.
Um desses inquéritos foi mandado elaborar em 1573 pelo Rei D. Sebastião ao Doutor António Castilho, guarda-mor da Torre do Tombo, com o fim de proceder ao Registo das Igrejas em que os reis de Portugal têm o direito de apresentação.
Para esse efeito deveria o guarda-mor buscar os papéis que davam notícias das doações do Padroado Real, feitas a Ordens, mosteiros, nobres e pessoas particulares até ao ano de 1573, assim como as sentenças e escambos que lhes digam respeito [2].
Feita a pesquisa, conforme o ordenado pelo rei, foi elaborado um códice – cujo original se encontra no Museu Britânico – onde constam muitas das Igrejas então existentes em Portugal.
As de Cambra, em número de cinco, constam do TITTULO DAS IGREJAS QUE SE ACHARÃO EM HHUM LIVRO, QUE ESTAA NA DITTA GAVETA; O QUAL LIVRO FOI TIRADO DO CENSUAL DO BISPADO DE COIMBRA PER GASPAR VELHO CHANCEREL DA CORREIÇÃO DA ESTREMADURA NO ANO DE 1532, do seguinte modo:
– A igreja de Castellãos, he do Cabido.
– A igreja de Ceppellos, da apresentaçam do conde da Feira.
– A igreja de macceira de Cambra, do conde da Feira.– A igreja de Roxe, do conde da Feira.
– A igreja da Carregosa, do Bispo.
– A igreja de Villacham, he da apresentaçam do conde da Feira.
Por aqui ficamos a saber quem na altura procedia à apresentação dos párocos para as cinco freguesias indicadas.
Da relação referente ao Arcediago do Vouga não consta, como seria suposto, a de Codal que já existia no tempo de D. Dinis.
Relativamente a Junqueira, que era pertença, então como hoje, do bispado de Viseu, também não lhe encontrámos menção.
Verifica-se, por outro lado, seguindo a sequência da relação que, entre Rôge e Vila Chã, aparece a de Carregosa.
Em data mais tardia – século XVIII – as freguesias de Macieira de Cambra, Cepelos, Carregosa e Rôge aparecem, no Portugal Sacro-Profano, como sendo de apresentação da Casa do Infantado [3].
A fachada de estilo barroco da bonita Igreja de S. Simão foi construída no século XVIII.
Diz a lenda que a Igreja foi mandada construir pela Infanta Dona Teresa, filha de D. Sancho I e irmā da Rainha Santa Mafalda, de Arouca.
Num cunhal exterior da Igreja está gravada toscamente uma data, que se supõe ser 1141 e correspondente à data da construção da lgreja, mas como só em 1422 é que Portugal principiou a usar a era cristā, é de crer que a referida data era de César.
Outras datas se encontram em várias pedras que devem coresponder às reconstruções [4].
Em estado muito degradado, foi destruída pelo terramoto de 1755 e reconstruída em 1777, conservando-se desta construção a torre, datada do mesmo século.
Modificada e ampliada na segunda metade do século XX pelo arquitecto Xavier Alabares de Albuquerque, conserva da igreja anterior a frontaria e a capela-mor, bem como o alinhamento da parede do lado direito.
A parede esquerda foi demolida, construindo-se aí a actual nave, de linhas modernas, cujo tecto é seguro por fortes barras, ficando o eixo transversal à anterior.
O portal é enriquecido de vários elementos, encimado por duas janelas e um pequeno nicho; o vão da porta, enquadrado por peças molduradas, fica entre pilastras.
No seu interior, destaque para o retábulo principal, em madeira entalhada, de finais do século XVII; a pia baptismal, de oito faces curvas, estilo manuelino, do século XVI e a custódia, de prata dourada, de princípios do século XVII.
O retábulo principal apresenta colunas em espiral ornamentadas com parras, aves e crianças dispostas duas de cada lado, encimadas por arcos e tendo o fundo pintado a policromia [5].
A talha do altar-mor, cúpula do sacrário e trono são de raro trabalho e valor.
O trono em forma semicircular está dentro da semicúpula do arco frontal e é segurado por quatro pelicanos.
No conjunto tem aspecto original [4].
Alfaias religiosas oferecidas à Freguesia de Arões
Em 5 de Agosto de 1909, Monsenhor Domingos Fernandes Nogueira, ministro da Ordem Terceira de S. Francisco e Prior da Basílica da Estrela, na Lapa, em Lisboa, ofereceu a Arões, freguesia onde nasceu, um pálio, duas lanternas e uma cruz.
Estas alfaias religiosas foram usadas pela primeira vez na festa em honra do Santíssimo Sacramento.
Nesta Igreja, cujo padroeiro era S. João Baptista, estavam gravadas em pedra as datas de 1573 e 18201.
Não se sabe, ao certo, ao que cada uma delas corresponde, porque as opiniões divergem: 1573 pode ser a data da construção da primeira igreja que existiu em Passô e 1820 a data da transferência para o lugar actual.
No entanto, segundo António Martins Ferreira, a primitiva igreja era no lugar de Passô e a transferência para o lugar onde está deve ter sido feita em 1573, data esta que está gravada numa das pedras do arco-cruzeiro [4].
O retábulo principal, todo em talha dourada, de finais do século XVII, é ornado de colunas torcidas, com pâmpanos, aves e crianças e encontra-se na actual igreja matriz, também dedicada a S. João Baptista.
Esta foi construída em 1957 por iniciativa do Pároco Manuel Coreia da Rocha Guimarães no mesmo sítio da antiga, mas em posição inversa.
Da antiga igreja são, ainda, uma escultura em madeira do padroeiro S. João Baptista, dos finais do século XVII, e uma Virgem (das Neves) com o Menino, em calcário de Ançã, do início do século XVI.
A Igreja Matriz de Codal, cujo padroeiro é S. Tiago, data dos princípios do século XVIII e supõe-se que tenha sido construída por partes. 1747 é a data gravada sobre a porta principal.
Os acabamentos terminaram em 1/49. Foi remodelada em 1799.
No exterior, fachada de cantaria que demarca o corpo da igreja da torre sineira, situada à esquerda.
A torre de quatro ventanas termina numa cúpula semiesférica. Por cima da porta principal, também ladeada de cantaria granítica e com dois pináculos, aparece uma janela simples, encimada por um frontão triangular.
No interior, de uma só nave, apresenta um arco-cruzeiro liso, apenas com impostas. Porta travessa à esquerda e púlpito de pedra à direita.
Destacam-se os três altares de talha dourada.
O retábulo do altar-mor seiscentista é formado por duas colunas torcidas, decoradas com parras que suportam dois arcos também decorados da mesma forma, no meio dos quais existe um espaço destinado ao Sacrário.
Nas faces deste, tal como na base das colunas, aparecem pequenas imagens esculpidas polícromas representando cenas ligadas ao culto.
Os altares colaterais, de finais do século XVIII, são dois belíssimos exemplares de talha dourada, notáveis em termos de decoração.
O altar da Epístola, dedicado a S. Sebastião, tem no nicho central a imagem do Padroeiro. Envolve-a uma bela tarja decorada com emblemas militares.
O altar lateral esquerdo, dedicado a Nossa Senhora do Rosário, apresenta, em cada rótulo da tarja que o circunda, os quinze mistérios do Rosário: da Anunciação à Descida do Espírito Santo [5], como se pode observar na fotografia da página anterior e no pormenor da fotografia seguinte.
Revelando um trabalho de grande qualidade e beleza, saído das mãos hábeis de um dos nossos entalhadores, deste altar disse sua Excelência Reverendíssima o Bispo do Porto, D. António Augusto de Castro Meireles, na sua visita pastoral a esta freguesia em 7 de Maio de 1940:
O altar de Nossa Senhora do Rosário devia ser considerado a medalha do concelho [4].
Ainda no interior, guarda na sacristia um retábulo com os bustos das duas figuras da Anunciação: Maria e Isabel.
Dos começos do século XVII, salienta-se na fachada da Igreja velha de Junqueira a torre, datada de 1790, que, encostada ao lado esquerdo, forma dois corpos.
No interior existem cinco retábulos de madeira do século XIX, num dos quais está colocada uma cruz com um Cristo, em pedra de ançā, e uma pia baptismal, obra do século XVI.
Os altares, por se encontrarem num estado bastante degradado, foram destruídos. O relógio foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Ouvida, em Viadal, vindo posteriormente a ser substituído.
A igreja matriz antiga, conhecida por Igreja velha, cujo padroeiro era S. Miguel Arcanjo, não tinha um estilo específico e era de dimensões muito pequenas.
Por ser impossível alargá-la, uma vez que o terreno era muito acidentado, foi construída uma Igreja Matriz nova, em 1945, por incentivo do padre Manuel Joaquim Tavares e, em 1949, foi-lhe adaptado o relógio que actualmente possui.
A igreja nova fica situada num ponto alto da freguesia. Dá-lhe acesso uma escadaria ladeada por dois obeliscos, com imagens e um pilar em que assenta o busto do Padre Manuel Joaquim Tavares, iniciador das obras, cuja escultura se deve a A. Ribeiro.
A Torre sineira levanta-se a meio da frontaria. Como a Igreja velha, a Igreja nova tem por padroeiro S. Miguel Arcanjo.
Dedicada a Nossa Senhora da Natividade, esta igreja matriz, cuja origem se perde no século XV, teve beneficiação de pintura nos anos 1870 e 1928 e várias outras beneficiações, principalmente em 1950 e em 1992 [6].
Inicialmente no lugar de Macieira-a-Velha, a pouco mais de um quilómetro da actual, foi transferida em 1673 para a vila de Caymbra, onde actualmente está, por desavenças entre a Mitra de Coimbra e D. Mafalda Afonso, da família de Gomes Gil de Lavarosa [7].
Esta tese de que a Igreja Matriz de Macieira de Cambra foi, no final do século XVII, transferida para o local actual era vinculada oralmente na região e por António Martins Ferreira na sua monografia Vale de Cambra [4].
Atribuem que a antiga localização da Igreja Matriz seria em Macieira-a-Velha, só sendo transferida em 1673, dando como prova a data gravada na padieira da porta da sacristia da mesma igreja paroquial.
Desconhecem-se, no entanto, provas de veracidade e as razões que teriam levado a transferi-la.
A planta, de tipo tradicional, é composta por duas capelas laterais, opostas, abertas nos lados junto à cabeceira, sendo de destacar a capela do lado direito, outrora do Sacramento, que apresenta duas meias-colunas integradas, de capitéis jónicos e que tudo indica ser obra mais antiga do que o edifício.
No exterior, frontaria larga e simples, sendo a fachada revestida de azulejos industriais com dois painéis que representam Nossa Senhora da Natividade e o Sagrado Coração de Jesus.
A janela do coro, por cima do portal de cantaria granítica e a ele ligada, é ladeada por pináculos e encimada por um pequeno frontão triangular. No topo tem uma cruz e a torre Sineira, do lado direito, está ligada ao corpo do edifício.
A torre de quatro ventanas termina numa cúpula semiesférica. No interior, de uma só nave, distingue-se o tecto fechado ao centro em dez séries de cinco caixotões e o púlpito, de bacia de pedra, apoiado numa mísula.
Os retábulos do altar-mor, das capelas e os colaterais datam de finais do séc. XIX.
Na imaginária, uma das esculturas mais antigas é obra do séc. XVII, em calcário da oficina coimbrã, e representa a Virgem do Rosário com o Menino, bem como a imagem da Padroeira, em madeira, do séc. XVII, actualmente colocada junto ao altar-mor.
Do séc. XVIII temos, em madeira, as imagens de S. Francisco e S. Domingos.
Do séc. XVII é também a custódia de prata dourada, do tipo cálice, com dois pares de colunelos jónicos, pingentes de cristal em vez de campainhas, mostruário de motivos salientes com copo e cúpula, rematando Com a imagem de Cristo Ressuscitado, também do séc. XVII [5]
Dedicada a S. Salvador, a Igreja Matriz de Rôge é uma construção do tipo barroco provincial, datada de 1755, com frontaria imponente, brasonada e com linda cantaria de granito local.
A frontaria rica em ornatos pode considerar-se estilisticamente influenciada pelos retábulos de D. João V.
A parte exterior, de estilo manuelino rural, do século XVI, provavelmente 1507, apresenta frontaria com pilastras nos cunhais e cornija arquitravada em granito lavrado.
Dos muitos motivos alegóricos centrados na frontaria, destacam-se três querubins e dois tritões feitados e opostos.
A porta principal é rectangular com duas colunas em forma de espiral. Sobre a porta principal situa-se uma janela com um querubim no lintel e duas crianças trombeteiras justa postas.
Ao centro, uma cruz trevada, timbre dos Condes da Feira, crava-se numa grande esfera granítica e na parte média das empenas aparecem duas crianças fidalgas de pé.
O escudo nacional, sobreposto pela coroa real e por uma águia com duas cabeças, timbre da Casa do Infantado, é seguro por duas sereias.
A torre sineira levanta-se à direita da fachada principal, mas não se liga arquitectonicamente com o corpo da igreja, e apresenta na cornija da torre a representação em pedra de monstros marinhos.
Já o corpo interior da igreja apresenta capela-mor, em semicírculo, e duas capelas laterais, que lhe dão a configuração de uma cruz perfeita.
Na capela-mor destaca-se um elegante altar, em talha dourada, da escola joanina, cadeirões laterais em pau-preto, e gravada em pedra a data de 1507, incompleta e cortada, escrita em sistema arábico, talvez da primeira construção da igreja.
No arco-cuzeiro aparece gravada a cursivo a inscrição Padre Abreu/1755, data de uma possível reconstrução, diz-se, devido a um incêndio.
No tecto, coberto a madeira, aparece o traçado semicircular, dividido em caixotões policromos, onde estão pintadas hagiografias e motivos florais, sem qualquer escola ou tipologia de relevo [8].
Na imaginária destaca-se a Virgem com o Menino e Santo António, obra em calcário da oficina coimbrã; o Grupo da Visitação e um Cristo Crucificado, em madeira, datados do século XVII.
Também a pia baptismal de pé torcido merece destaque [5].
O tecto, os cinco altares elegantes e duas colunas floreadas que sustentam um dossel apainelado, são obra do Padre Manuel Tavares de Amorim, que foi grande artista desta freguesia.
O pároco Coelho de Vasconcelos colocou telha marselhesa em toda a igreja em 1924, soalho no corpo da igreja em 1927, em 1933 guarda-vento e relógio oferecido por António de Almeida Maurício.
O reverendo Joaquim de Oliveira Maurício mandou levantar o telhado da igreja, lavar as esquadrias, gastando em tudo isto 20 contos em 1947 [9].
Segundo artigo de Lopes Pereira, na Revista do Arquivo Distrital de Aveiro, a Igreja de S. Pedro de Castelões existia já no século XI.
Em 1929, a ecclesia de Santus Petrus de Castelaos faz parte
do bispado de Coimbra como padroado régio [10].
Estruturalmente, parece saída de uma reconstrução de fins do século XVII, embora posteriormente modificada [11].
A fachada foi reparada e reformada em 1885 [4]. Esta obra foi custeada pelo Comendador Francisco Tavares de Bastos, abastado habitante de Areias.
A fachada da Igreja Matriz de S. Pedro de Castelões enquadra-se no tipo das realizadas nesta região na segunda metade do século passado: uma ou duas torres, poucas aberturas, frontispício triangular, fachada revestida de azulejaria de tons azulados.
Na realidade a sua fachada é harmoniosa, do tipo tradicional. Inicialmente só com uma torre sineira do lado direito (e uma segunda a partir de 1995), foi revestida de azulejos figurativos modernos com painéis, como por exemplo, no lado sul um dedicado pela população de Castelões a D. Nuno Alvares Pereira e a sua tomada de hábito, por ocasião do seiscentésimo aniversário do seu nascimento (1360-1960).
Curiosa por ser uma Igreja de três naves, arcadas baixas e com um arco-cruzeiro totalmente decorado em talha dourada, dos inícios do século XVIll, cujo conjunto é digno de nota, dado apresentar uma envolvência do arco-cruzeiro com o retábulo da nave do Evangelho, o que leva à fusão dos altares colaterais com o dito arco-cruzeiro, formando um só conjunto de grande originalidade.
Uma das peças com maior relevo histórico é a inscrição tumular que se encontra por cima da porta travessa direita. Esta inscrição identifica um dos padroeiros da igreja, Francisco Tavares, cuja representação genealógica está nos Morgados de Pigeiros, e diz o seguinte:
CAPP.LA INSTITVIDA POR FRAN.CO
TAVARS DO RAMALHAL 1545 HOIE
DOS MORGD.OS DE PIGEIROS2.
2 Deve ler-se: Capela instituída por Francisco Tavares, do Ramalhal, 1545; hoje dos Morgados de Pigeiros.
Significa isto que, em meados do século XVI, houve um monumento religioso patrocinado por uma família.
A este propósito, Nogueira Gonçalves [11] afirma: …a cruz era dos Pereiras (da Feira) talvez por D. M.a Pereira, primeira mulher do instituidor (Francisco Tavares) bastarda da Casa da Feira, em cujos filhos ficou, posto que Francisco Tavares fizesse a instituição com sua segunda esposa M.” do Amaral, da qual não teve geração…
A capela-mor foi modificada e ampliada no século XX, daí resultando a existência de duas sacristias: a sacristia propriamente dita encontra-se à esquerda da capela-mor, mas do lado direito há uma antiga sacristia, que poderá ter sido privativa da fundação, devota da capela da nave contigua, cujo altar era devotado a Nossa Senhora da Graça e, segundo Nogueira Gonçalves [11], era pertença da Casa de Baçar.
De decoração barroca são os vários altares devotados a Nossa Senhora do Carmo, à crucificação de Cristo e a Nossa Senhora do Rosário.
Realço, em particular, este altar, de estilo barroco (transição do século XVIl e XVI) que coincide como período do reinado de D. Pedro ll a D. João V.
A talha é bastante cavada e o douramento encontra-se em razoável estado de conservação. Este altar é constituído por quatro colunas torsas, tipo salomónicas. Os elementos da coluna rejeitam-se na parte superior do círculo.
O altar é constituído por vários elementos, predominando os da vinha e árvores. Na parte superior do altar encontra-se uma grinalda de flores, sendo o fecho constituído por uma coroa de anjos.
A imagem de N. Srª do Rosário, de finais do século XVII, assenta num pequeno trono com base formada por anjos e motivos de conjunto.
Na base do altar encontra-se um sacrário envolvido por uma grinalda e na parte central do sacrário um rosto de anjo; os castiçais dourados datam também do século XVII.
Ao fundo da nave esquerda há uma reentrância lateral, o baptistério.
A pia baptismal rodeia-se, até meio pano da parede, de azulejos com tons de azul e branco. Sobre estes sobressaem cenas bíblicas e passagens das Escrituras, com excertos de versículos e salmos.
O altar-mor, situado atrás do cruzeiro, é dominado por um grande painel, onde se observa Cristo a entregar as chaves do celestial paraíso a S. Pedro.
Este imponente painel, pintado pela Casa Fânzeres, de Braga, facilmente se vislumbra da entrada, quer pelo tamanho quer, acima de tudo, pela harmoniosa combinação policromática da pintura e do retábulo envolvente.
Há a realçar, ainda, a existência de duas esculturas: à esquerda, num intercolúnio3, S. Pedro segura as chaves, enquanto à direita, também entre colunas, S. Paulo tem na mão direita uma espada e na esquerda a epístola.
3 Distância entre colunas.
Na página direita lê-se: EPISTOLA BEATI e na esquerda PAULI APOSTOLI.
O órgão tubular, estilo D. João V, pertencente à escola alemã, foi construído entre 1896 e 1898 e colocado na Igreja Matriz em 1901, tendo sido restaurado, mais tarde, em 1984.
Também as bancadas, de madeira, faziam parte dos benefícios do século de novecentos, como se podia ler num dos bancos do lado esquerdo: …oferecidos à Igreja em 1959 pelos
benfeitores António Soares e sua esposa Conceição Soares, residentes em S. João de Loures, sendo ele natural da paróquia de
Castelões.
Em 1995, estas bancadas foram substituídas, assim como o interior da igreja sofreu restauros e remodelações profundas: o piso em madeira foi rebaixado; foi colocado um novo altar em granito e respectivo ambão; foram recolocados dois altares antigos (retirados há umas boas dezenas de anos) e executadas peças de remate iguais às já existentes; estes e oS altares laterais foram pintados de novo; o tecto da igreja foi totalmente remodelado, sendo executados caixotões postiços com molduras pintadas a ouro velho e a restante moldura a ocre, num total de 15 caixotões na parte central da igreja, 8 em cada uma das duas partes laterais (16 num total) e finalmente 6 na zona do altar-mor.
No exterior também foram feitas obras de construção da segunda torre e na base desta foi colocada uma imagem de S. Pedro em bronze.
Estas obras foram custeadas pelo Comendador Ilídio Pinho.
Podemos concluir que a decoração desta igreja é maioritariamente barroca, fruto de reconstruções, reparações e melhoramentos ao longo dos tempos.
A Igreja Matriz é dedicada a Nossa Senhora da Purificação ou Senhora das Candeias.
Obra do século XVIII, modesta, apenas a frontaria foi tratada com certo cuidado, seguindo os modelos regionais, tendo sido coberta, já no século XX, de azulejos industriais com painéis.
A fachada é composta de pilastras angulares, rematadas por pináculos e encimada por uma cruz. A ladeá-la apresenta duas torres, sendo a sineira, mais antiga, do lado esquerdo.
A capela-mor foi ampliada; sustentava-a um arco tríplice decorativo, o que torna as suas dimensões pouco usuais e permite ver, em destaque, o retábulo do altar-mor, obra dos séculos XVII e XVIII, época de D. Pedro I, em madeira, formado por duas colunas torcidas e envolvidas em parras, tendo na base pequenos relevos figurativos, com imagens ligadas ao culto: Santa Luzia, S. Gonçalo, um Eremita, Santa Apolónia, S. João Baptista menino e Santa Catarina.
Tem quatro altares. No interior, salienta-se ainda: uma escultura de Santa Ana, com a Virgem ao colo, do mesmo século; a pia baptismal, bastante antiga e de forma octogonal e, ainda, o púlpito de bacia e mísula de pedra com resguardo de madeira entalhada, do mesmo tipo do altar [5].
O Dr. Domingos de Almeida Brandão mandou forrar e soalhar a igreja, colocar mosaico na capela-mor e construir uma casa para sessões. [9]
A Igreja Matriz de S. João Baptista data dos começos do século XVIII.
A frontaria é revestida a azulejos com motivos figurativos e possui pilastras nos ângulos, alargando-se para a direita de forma a abranger o corpo do campanário, de uma só ventana, rematada por pináculos e cruz.
De composição habitual: corpo, santuário e sacristia, a qual passou, nas últimas obras, para o lado direito.
Por cima da empena da porta principal abre-se um pequeno óculo circular e de esbarro.
No seu interior, podemos ver o retábulo principal, datado do primeiro terço do século XVII, época joanina, como vão do trono introduzido por molduramento oval, tendo em cada lado duas colunas torcidas e enroscadas de grinaldas.
Ao lado do altar-mor colateral esquerdo há uma pintura de artista popular (ex-voto), em tábua de tamanho fora do comum, datada de 1721, com uma inscrição onde se lê que António Silvestre para pagar uma graça concedida, quando foi atacado por um bando de gatunos nos montes da Cadoeira (Brasil), doou à igreja a quantia de 20.000 reis com que se dourou o retábulo.
Embora se ignore o autor do quadro, pode dizer-se que é de merecimento e valor.
De destacar, ainda, uma custódia de prata, do século XVII, tipo cálice integrado de dois pares de colunas jónicas, hostiário com glória de pequenos raios, cúpula e cruz terminal [5].
No início do século XX foram realizadas obras na igreja paroquial de Vila Cova de Perrinho, por iniciativa do Padre José Carlos.
Assim, desde 1925 a 1938: porta travessa nova, na igreja inauguração da grande devoção da Via-Sacra, com os respectivos quadros, novo pavilhão do sacrário, compra das imagens de Nossa Senhora de Fátima, do Sagrado Coração de Jesus, cujo altar foi feito de novo, inaugurando nesta freguesia, no ano de 1928, o Apostolado da Oração.
Compraram-se e restauraram-se alguns paramentos, duas lindas bandeiras de festa para crianças e duas bandeiras para funerais, bem como 24 opas do Sagrado Coração de Jesus para homens e crianças e uma patena de metal dourado para a Sagrada Comunhão.
Foi restaurada a igreja paroquial, interior e exteriormente, com pinturas e limpeza da esquadria.
Foram colocadas grades de ferro nas escadarias do púlpito, do campanário e coro, bem como dois portões de ferro nos muros do adro da igreja que, também, foram constituídos de novo, neste tempo.
Todas estas obras importaram naquela época em cerca de vinte e cinco mil escudos. [9]
A Igreja Matriz foi limpa e restaurada em 1959/60. Em 1992/93 foi ampliada e arranjada.
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[1] Almeida, Manuel – Terra Cambrense, in A Voz de Cambra, Ano XXIV, N. 565, de 1 de Dezembro de 1994.
[2] Serrão, Joaquim Veríssimo – Livro das Igrejas e Capelas do Padroado dos Reis de Portugal – 1574 – Fontes Documentais Portuguesas, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971, apud Manuel Almeida, ibidem.
[3] Carvalho, Joaquim e outro – A Diocese de Coimbra no século XVII. População, Oragos, Padroados e Títulos dos Párocos. Descrição geográfica e administrativa da diocese, in Revista de História das Ideias, Vol. XI, Ano de 1989, apud Manuel Almeida, ibidem
[4] Ferreira, António Martins – Vale de Cambra, 1942.
[5] Marques, Maria Clara de Paiva Vide – Monografia de Vale de Cambra, 1993.
[6] A Voz de Cambra, Ano XXI|, N. 507, de 15 de Maio de 1992.
71 Almeida, Manuel – Os inquéritos da Diocese do Porto, in A Voz de Cambra Ano XXV, N. 590, de 15 de Dezembro de 1995.
[8] Vasconcelos, Margarida, in Notícias de Cambra, Ano VII, N. 124, de 31 de Dezembro de 1999.
[9] Almeida, Manuel – Os inquéritos da Diocese do Porto, in A Voz de Cambra, Ano XXV, N. 592, de 15 de Janeiro de 1996.
[10] Castro, Armando de Padroados, in Doc. Hist. De Portugal, dir. Joel Serrão, Vol. V, apud Nelson Martins e Fátima Dias, in A Voz de Cambra, Ano XXVI, N. 602, de 15 de Junho de 1996.
[11] Gonçalves, A. Nogueira – Distrito de Aveiro, in Inventário Artístico de Portugal, Lisboa, 1981, Vol. XI, apud Nelson Martins e Fátima Dias, in A Voz de Cambra, Ano XXVI, N.° 603, de 1 de Julho de 1996.
CAPELAS
Lugar dos Dois – Freguesia de S. Pedro de Castelões
A capela primitiva foi mandada construir nos finais do século XVIII, por José de Pinho Carvalho, do lugar de Cimo d’Aldeia.
A primeira referência que se conhece sobre a Capela é uma escritura de dote de património, feita em 22 de Maio de 1791 por José de Pinho Carvalho e sua mulher Maria Angélica Tavares, que doaram à Capela das Almas o seu campo chamado “Chão da Casa de Baixo”, com as suas árvores de vinho e com suas águas de rega e mais pertenças, no valor de sessenta mil reis e com o rendimento anual de três mil reis.
Este campo era terra reguenga que pagava foro ao Castelo da Feira. Com esta doação feita à Capela das Almas, os doadores e seus descendentes continuariam a fabricar o campo sem que em tempo algum sejam obrigados a dar conta do rendimento, despesa ou acréscimo, porque tão somente são obrigados a reedificação da dita capela, para a prepararem e reedificarem tanto do que for necessário na casa e corpo dela como nos seus paramentos.
Integrada no tipo de ermida regional é composta de corpo, santuário e sacristia pequena do lado direito.
No interior, o retábulo é dos finais do séc. XVII e forma três espaços: ao centro o painel das Almas esculpido e nos lados S. Pedro e S. Paulo pintados.
A inauguração do restauro da capela foi efectuada no dia 16 de Setembro de 1989 e, neste dia, Sua Eminência Reverendíssima
o Bispo Auxiliar do Porto, D. Manuel Pelino, procedeu à bênção da Capela das Almas.
De certo modo ligada à Capela e para aumento das esmolas das Almas está a criação da Feira dos Dois.
A requerimento do acima citado José de Pinho de Carvalho, a Rainha D. Maria I, por Despacho do Desembargo do Paço, de 4 de Setembro de 1795, concede licença para que no sítio dos Valdantes se possa estabelecer uma feira no dia dois de cada mês.
A referida licença foi emitida no dia 9 do mesmo mês e ano, tendo sido registada em Lisboa a 10 de Setembro de 1795 e em Cambra a 5 de Outubro do mesmo ano.
Os pregões a anunciar a nova feira foram feitos na feira dos nove de Outubro de 1795, declarando o dia dois do mês de Novembro do mesmo ano de 1795 como o princípio da dita feira [2].
Função – Freguesia de Rôge
Situada no cimo do lugar, a primitiva capela datava do século XVI.
A ermida era de regulares dimensões, tinha 3 altares, boas imagens, púlpito e coro.
O altar-mor tinha trono e, no cimo, assentava a imagem da Padroeira, Nossa Senhora do Desterro [2]; no altar lateral esquerdo, Nossa Senhora de Fátima, imagem adquirida e o altar feito de novo em 1941, quando era presidente da comissão o Sr. Belmiro Fernandes; no do lado direito o Divino Espirito Santo.
O adro era murado e a entrada principal fazia-se por uma escadaria semicircular, ficando dentro dele a Ermida, o Cruzeiro, casa de arrecadações e um bom coreto de pedra e cimento, coberto a ferro e zinco.
Tem uma irmandade com estatutos aprovados pelo Governador Civil de Aveiro, em 10 de Maio de 1921 e por Sua Eminência Reverendíssima o Bispo do Porto, em 2 de Agosto de 1938. [3]
A antiga capela deu lugar em 1967 a uma construção moderna.
A Romaria de Nossa Senhora do Desterro é também uma das mais conhecidas do concelho e a ela afluem todos os anos muitos milhares de forasteiros e alguns vindos de longínquas terras, em pagamento de promessas.
Antigamente era esta romaria conhecida como da Senhora do Destino.
Actualmente festeja-se no Domingo de Pentecostes a festa do Espírito Santo e na Segunda-Feira do Espírito Santo a de Nossa Senhora do Desterro.
Daí que estas celebrações também sejam conhecidas como Romaria da Nossa Senhora do Desterro e do Divino Espírito Santo.
Currais – Freguesia de Junqueira
O Reverendo João de Bastos mandou edificar em honra de Santo António, no lugar de Curais, uma pequena capela que veio a cair em ruínas, sendo reedificada em local mais próprio em 1925 pelo Reverendo Manuel Joaquim Tavares, soba invocação de Nossa Senhora de Lurdes, conforme inscrição lá existente.
Esta capela é digna de admiração por ter o seu altar e respectiva tribuna artisticamente lavrada em granito, em estilo barroco, conservando as pinturas e douramentos de há 200 anos [3].
Cavião – Freguesia de S. Pedro de Castelões
A primeira construção datará de 1646.
Inicialmente a capela era muito pequena e terreira. Foi ampliada em 1946.
Simples, de corpo e santuário com sineira no vértice, tem em frente um cruzeiro, tipo calvário, da mesma época, e um coreto.
Viadal – Freguesia de Cepelos
A construção da primeira capela data de 1689, o que se deduz da inscrição numa porta interior. Porém, e segundo documentos que se encontram em arquivos nacionais sobre o nosso concelho, sabe-se que N. Sra da Ouvida já existia neste meio há muitos anos atrás.
Diz-se mesmo que houve aparição de Nossa Senhora, em finais do século XV, aos pastores de Rôge e Cepelos e o local onde se encontra a capela já se chamava Cavada Santa.
Em 1721, na primeira informação do pároco da freguesia – prior João Gomes, ao Bispo de Coimbra, se relata a festa de Nossa Senhora da Ouvida, como feita na primeira oitava da Páscoa, ou seja no Domingo de Pascoela.
Nesse tempo a festa consistia numa missa cantada.
Em 1758 aparece a segunda memória paroquial, esta pelo prior Manuel da Silva Grilo ao Bispo de Coimbra e que nos apresenta já Nossa Senhora da Ouvida como a única romagem da freguesia.
Em 1860 houve a reconstrução da primeira capela.
Em 1932 é reconstruída a capela com a estrutura que tem hoje. 4
Em 1934 é criada uma comissão para gerir os bens da capela.
Em 1942 é constituída a Irmandade de Nossa Senhora de Ouvida, por cujo estatuto ainda hoje se rege, com nomeação de dirigentes de três em três anos.
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4 A reconstrução e ampliação da capela deve-se ao Sr. Diamantino Tavares e seus companheiros [4].
Os estatutos da Irmandade foram aprovados em 28 de Outubro de 1942 [5].
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5 Viadal era uma aldeia pertença de Grijó em 1365 e pagava ao Mosteiro de Grijó a quantia de 30 soldos.
O sino veio dos lados de Ermesinde e foi colocado na capela nos finais dos anos cinquenta.
Os azulejos foram colocados nos finais dos anos cinquenta, início dos anos sessenta. O coreto foi construído no ano de 1976.
Uma oração desses tempos:
“Senhora da Ouvida, mãe de amor e luz, rogai por nós ao Divino Jesus” [6].
Romaria de Nossa Senhora da Ouvida
A afamada Romaria de Nossa Senhora da Ouvida, em Viadal, Cepelos, venera-se na secular capela da sua invocação, situada num vasto recinto que, pelas suas aptidões se pode classificar como o segundo do concelho de Vale de Cambra, a seguir ao de Nossa Senhora da Saúde.
Costume da época era simular enterros nas procissões. Um desses casos aconteceu cerca de 1930, antes da nova capela ter sido construída, e consistiu no seguinte:
Um dos Quintais – parece que o António – esteve no Brasil e contraiu lá a tuberculose ou outra doença grave.
Regressou a Portugal e fez promessa à Nossa Senhora da Ouvida de ir dentro do caixão se melhorasse. Morreu, entretanto. Como promessas são para cumprir, foi o irmão Joaquim, também conhecido por Cavada Santa, que foi levado, aquando da procissão, dentro do caixão que havia para tal efeito.
Foi transportado, desde o lugar, por quatro homens e coberto com uma toalha que parecia de linho6.
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6 Este testemunho foi prestado por dois informantes de cerca de 80 anos.
Esta era uma prática então corrente nas festividades, sobretudo na Senhora da Saúde, de que se conhecem alguns relatos escritos de condenação. Parece que era, contudo, do agrado da população.
Havia durante a festa feirantes, doceiros, como a tia Tamancas, que vendia bolos e regueifas, e o tio António Matos, que vendia rebuçados, bebidas, sobretudo vinho e os célebres pirolitos.
Presença habitual era o homem do jogo dos dados. Trazia uma mesa amovível com uns números em cima. Abria-a e, com um dado dentro de um copo, aconselhava a que se fizesse apostas. Quem ganhasse recebia uma quantia bastante superior à investida.
Não consta que alguém tenha ficado rico com tais investimentos, nem mesmo o dono da banca que todos os anos aparecia.
À noite organizava-se serão, à luz do gasómetro, e balseava-se e cantava-se ao desafio [7].
Terminava a festa ao anoitecer com a debandada geral dos romeiros e poucos feirantes/doceiros.
A capela de Nossa Senhora da Saúde, situada no alto da Serra do Arestal, é a herdeira de um pequeno nicho existente no lugar de Gestoso, com as imagens de Nossa Senhora e Santo António, mas ignora-se a data da sua fundação.
Tornando-se o local exíguo para tantos romeiros e tantas pessoas, foi mandada erigir uma ermida que já vem referenciada em 26 de Novembro de 1753.
Aliás, pelas visitas pastorais à freguesia de S. Pedro de Castelões se depreende que a capela de Nossa Senhora da Saúde, em Gestoso, já existia no ano de 1753, que necessitava de reparações e era visitada por muitos romeiros. [8]
Em 1800 existia já a capelinha de Santo António com um pequeno patamar interior e tinha a porta principal voltada para poente (serra de Lordelo).
Em 20 de Maio de 1855 a capelinha foi assaltada.
Em 7 de Fevereiro de 1907 iniciaram-se as sessões da Junta de Freguesia de Vila Chã na referida capelinha.
Em 14 de Setembro de 1917 foram feitas pequenas reparações na capelinha, encarregando-se destes serviços o Reverendo Thomaz Correia do Amaral, pela importância de oito escudos e dezoito centavos.
De 1917 até 1922 foram afixados Editais para concurso da nova capela.
Em 15 de Abril de 1918, como a nova capela nunca mais era construída, alguém se lembrou de fazer uma capela em miniatura, em chapa e madeira, colocando-a sob um frondoso sobreiro, no largo da Feira dos Nove, junto à Farmácia Camilo de Matos.
Em 15 de Setembro de 1920, a capelinha encontra-se em completo estado de ruínas.
Em 5 de Junho de 1921, a Junta deliberou pedir à Câmara em Macieira de Cambra terreno para a construção da nova capela.
Em 1 de Outubro de 1922, o contrato de construção foi orçamentado em 9.500$00 (nove mil e quinhentos escudos) por Gabriel Soares de Almeida.
Após vários concursos para a arrematação da construção sem proponentes, em 3 de Fevereiro de 1924 a Junta deliberou aceitar o legado do falecido Abílio António Martins de Pina, de Coelhosa, para a ajuda da construção da Capela de Santo António.
Em 19 de Agosto de 1924 houve a deliberação da Junta de construir a Capela de Santo António, sita no lugar da Gandra, e rogar à Comissão da Presidência da Câmara Municipal a cedência do terreno, ao cimo do lugar da Gandra.
Em 1925 houve um cortejo de oferendas para angariação de
fundos para a construção da capela.
De 22 de Agosto de 1925 a 29 de Fevereiro de 1926 procedeu-se à demolição da pequenina capelinha de Santo António.
Em 1928 foi dada por concluída a construção da capela, já mais ampla. Os sinos foram colocados cerca de dois anos mais tarde [9].
A capela de Santo António apresenta fachada composta por dois registos com torre sineira a meio. O registo superior apresenta três janelas, enquanto o inferior comporta a entrada principal, ladeada por duas janelas.
Na torre sineira destaca-se a inclusão de uma cruz de granito. [10]
Em 1946 houve um cortejo de oferendas para a angariação de fundos para obras de restauro da Capela de Santo António. Posteriormente houve outras obras de restauro.
Como esta capela de Santo António já não tinha espaço para comportar o número crescente de fiéis, homens e mulheres de boa vontade uniram-se e criaram o Santuário de Santo António, inaugurado em 10 de Janeiro de 1993, com a presença de Sua Ex. Reverendíssima o Senhor Bispo do Porto, D. Júlio Rebimbas, e do Senhor Ministro Professor Doutor Valente de Oliveira.
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[1] Existem no concelho cerca de 50 capelas. O primeiro levantamento de todas as capelas do concelho foi feito em 1987-88 por iniciativa de Maria da Graça Pinho da Cruz, na função de vereadora do Pelouro da Cultura da Camara Municipal de Vale de Cambra, com a colaboração dos Párocos e Presidentes das Juntas de freguesia.
Na altura, fez, ainda, o levantamento de todas as festas religiosas e populares, alminhas, cruzeiros e coretos do concelho, assim como o estudo de algumas igrejas.
[2] Vide Cruz, Maria da Graça Pinho da – Vale de Cambra, meio século de imagens, Vol. II – Transportes, Indústria e Comércio.
[3] Ferreira, António Martins – Vale de Cambra, 1942.
[4] Jornal de Cambra, Ano XLV, N. 1142, de 15 de Março de 1976.
(5) Almeida, Manuel Joaquim T, in A Voz de Cambra, Ano XX, N. 461, de 15 de Maio de 1990.
[6] A Voz de Cambra, Ano XX\VI, N. 637, de 1 de Janeiro de 1998.
[7] A Voz de Cambra, Ano XXVII, N. 643, de 1 Abril de 1998.
[8] Sobre a capela e romaria de N. Senhora da Saúde vide Cruz, Maria da Graça Pinho da Vale de Cambra, meio século de imagens, Vol. VI – A Romaria de Nossa Senhora da Saúde da Serra.
[9] In Actas da Junta de Freguesia de Vila Chã.
[10] Gonçalves, A. Nogueira Inventário Artístico de Portugal Distrito de Aveiro – Zona de Nordeste. Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1991.
ALMINHAS
Ao longo das 9 freguesias do concelho existe cerca de uma centena de alminhas.
A origem destes singelos marcos do cristianismo é remota. Ligado à crença do Purgatório, o culto das almas acentua-se a partir do Concílio de Trento e da Contra-Reforma.
Em Portugal é no século XVII que surgem as alminhas que se propagam a partir do século XVII.
Grandiosas na sua simplicidade, algumas com certo valor artístico e de grande valor etnográfico, são sempre testemunho de fé e piedade do povo que as implantou e que pretende manifestar a sua religiosidade e respeito para com os seus mortos; por isso as conserva e acende luzes pelas Almas do Purgatório com o objectivo de as sufragar.
Revelam a crença na vida para além da morte e são um apelo aos vivos para que rezem pelas almas dos seus mortos e ofereçam esmolas.
Surgem em lugares determinados e, nalguns casos, devido a infaustos acontecimentos locais (marcação do lugar onde aconteceu algum acidente ou onde alguém pereceu).
Noutros terá sido pura devoção ou, ainda, reconhecimento por graças recebidas e cumprimento de promessas.
Podemos encontrá-las à beira das estradas, caminhos, encruzilhadas, montes e vales e mesmo veredas hoje pouco transitadas.
Enquadradas, por vezes, numa paisagem bucólica, algumas limitam-se a um bloco de granito, talhado e esculpido, boleado na parte cimeira, onde é escavado o nicho que encerra o painel, normalmente de madeira ou zinco, com pinturas e imagens do Purgatório em labaredas, queimando as pobres almas que lá caem.
Outras são miniaturas de capelas gradeadas para proteger a caixa das esmolas que os viandantes lá vão deixando por intenção das Almas do Purgatório ou para desconto dos seus próprios pecados.
Algumas têm frases escritas que exprimem pensamentos para reflexão dos mortais que as lêem, como, por exemplo, as do Fundo da Escaleira, em Macieira de Cambra:
EIS OSSOS CARCOMI
DOS CINZAS FRIAS
EM QUE PARO DA VIDA
OS BREVES DIAS MORTAL
SE QUANTO VÊS TE NÃO
ABALA OUVE ATREMEN
DA VOZ QUE ASSIM
TE FALLA LEMBRA-TE
HOMEM QUE ÉS PÓ
E QUE DESTARTE
EM PÓ OU CEDO
OU TARDE HÁS DE
TORNAR TE
Em tempos antigos em Vale de Cambra havia o costume de Ementar as Almas [1].
Pela Quaresma, os mordomos deviam procurar um homem “de boa vida e costumes”, pagando-lhes dos réditos da Irmandade, para que todas as sextas-feiras a todos os Passos encomendasse as almas do Purgatório, rezando-lhe e pedindo em voz alta a todos que se lembrassem delas.
Só homens tomavam parte nesta cerimonia e só cantava o ementador.
O ementador entoava o seguinte cântico:
O homem qu’és terra
Lembra-te qu’ “há-des” morrer
Tens de dar contas a Deus
Do teu bom ou mau viver.
Mais peço, irmãos meus,
Um Padre-Nosso e uma Ave-Maria
Por alma de (citam o nome).
Seja pelo amor de Deus.
Alerta, pecadores, alerta,
A vida é Curta, a morte é certa.
António Correia de Oliveira, poeta do lirismo popular, nascido em S. Pedro do Sul, a respeito das alminhas, dedicou-lhes esta quadra [2]:
Nem só na Igreja
Também vós sois oratório
Ó alminhas do caminho,
À beira do Purgatório.
[1] Informação do Senhor Padre Martingo.
[2] Sousa, Urbano Tavares de, Regresso ao passado, 1998. João do Crasto é o pseudónimo usado por este autor nas suas crónicas jornalísticas.